Nesta terça-feira (25) o assassinato da menina Tayná Adriane da Silva completa 11 anos. Para a Polícia Civil do Paraná (PC-PR), o caso está solucionado, porém o Ministério Público (MP-PR) segue pedindo mais investigações do crime.
A adolescente tinha 14 anos quando desapareceu em 25 de junho de 2013, no bairro São Dimas, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. Moradores encontraram o corpo dela três dias depois, dentro de um poço em um terreno em frente a um parque de diversão. Segundo a polícia, ela foi estuprada.
Quatro homens foram presos suspeitos de envolvimento no crime: Sérgio Amorim da Silva Filho, na época com 22 anos, Paulo Henrique Camargo Cunha, com 25, Adriano Batista, com 23, e Ezequiel Batista, de 22 anos.
Eles trabalhavam no parque de diversão, próximo ao local onde o corpo da adolescente foi encontrado.
?De maneira resumida, no processo penal, a polícia abre um inquérito para investigar a autoria e a motivação do crime. Concluída a investigação, o resultado é apresentado ao Ministério Público, que pode denunciar os acusados à Justiça. Caso a denúncia seja aceita, se inicia a ação penal na qual, ao fim, os réus serão condenados ou absolvidos.
De acordo com a Polícia Civil, onze dias após o assassinato de Tayná, a corporação relatou o inquérito policial e o enviou à Justiça, responsável por encaminhá-lo ao Ministério Público.
Porém, desde então, o Ministério Público pede diligências complementares para o caso, que está sob sigilo. Entre elas, por exemplo, o órgão solicitou a exumação do corpo da adolescente para a realização de novos exames.
A polícia afirma que, em 2018, reiterou em ofício a conclusão inicial de autoria do crime pelos quatro suspeitos autuados em 2013.
Em nota ao g1, a Polícia Civil do Paraná afirmou que, para a corporação, o caso já está solucionado. Porém, explica que ainda as cumpre diligências complementares solicitadas pelo Ministério Público.
Porém, por conta do sigilo que envolve o caso, nem a polícia nem o Ministério Público responderam ao g1 qual o andamento das investigações.
Por meio de nota, o advogado Luis Gustavo Janiszewski, que representa a família de Tayná, afirmou que "mesmo passados onze anos de sua morte, ainda mantém a esperança no desfecho do caso".
O advogado disse ainda que a Polícia Civil do Paraná sempre posicionou que os quatro suspeitos presos à época são os autores do homicídio e que não entende o motivo de o Ministério Público ainda não ter oferecido a denúncia contra eles.
A seguir, relembre detalhes do caso.
Linha do tempo
25 de junho de 2013: Tayná é vista pela última vez
27 de junho de 2013: Quatro são presos suspeitos de envolvimento no crime
28 de junho de 2013: Corpo de Tayná é encontrado
4 de julho de 2013: Inquérito policial é encaminhado à Justiça
15 de julho de 2013: Suspeitos são soltos após denúncia de prática de tortura
17 de julho de 2013: Suspeitos passam a integrar o programa de proteção à testemunha
28 de agosto de 2013: Corpo de Tayná é exumado após solicitação do MP
17 de maio de 2018: Polícia reitera em ofício conclusão sobre autoria do crime pelos quatro suspeitos iniciais
Desaparecimento de Tayná
Segundo a família da adolescente, ela saiu de casa com a intenção de ir encontrar um amigo, mas, como ele não estava em casa, seguiu para a residência de uma amiga.
Ao se despedir da colega, Tayná enviou uma mensagem para a mãe dizendo que estava voltando para casa.
A distância entre a casa de Tayná e da amiga com quem ela teria se encontrado é de aproximadamente um quilômetro e ela faria o trajeto de volta a pé.
Uma câmera de segurança registrou ela andando nas proximidades do parque de diversão, ainda viva. Porém, ela não foi vista nas imagens de outra câmera, cerca de três quadras depois do parque, e que ficava no caminho que ela faria normalmente.
Três dias depois do desaparecimento, o corpo dela foi encontrado.
O crime chocou o bairro onde a menina morava e causou manifestações em Colombo. Em uma ocasião, moradores protestaram no parque de diversão onde os suspeitos trabalhavam e atearam fogo em diversos brinquedos.
As investigações
O caso está sob sigilo e, dessa forma, nem a Polícia Civil nem o Ministério Público detalharam qual o andamento das investigações.
Em 2022, o delegado Marcos Fontes, então responsável pelo caso, afirmou ao g1 ter solicitado a quebra de sigilo telemático – que autoriza o acesso a informações privadas de dispositivos ou sistemas digitais – de todas as pessoas que teriam tido contato com Tayná na época do crime.
A partir dos dados obtidos, a polícia poderia identificar, por exemplo, mensagens trocadas pela vítima nas redes sociais com possíveis suspeitos.
As pessoas com quem a adolescente teve contato também iriam ser ouvidas pela polícia. No caso das pessoas do sexo masculino, explicou o delegado, foi pedida a coleta do DNA.
O g1 questionou se essas diligências foram, de fato, cumpridas, mas a Polícia Civil não respondeu.
Na época, Fontes afirmou que pretendia concluir as investigações até junho daquele ano, o que não se concretizou.
Material genético
Exames de DNA analisaram o sêmen encontrado no corpo da adolescente. Eles apontaram que o material não pertence a nenhum dos quatro suspeitos que foram presos pelo crime.
Na época, o Ministério Público afirmou que a prova, porém, não significa necessariamente a inocência dos suspeitos.
Outro episódio que chamou a atenção ao longo das investigações foi quando o delegado Silvan Pereira e outros 10 policiais civis foram intimados pela Justiça de Colombo, em 2013, a fornecerem material genético para confrontar com o sêmen encontrado no corpo da menina.
Na época, o delegado afirmou que não conhecia nem nunca tinha visto Tayná.
Confissão sob tortura
Os quatro suspeitos presos dias após o crime chegaram a confessar o crime.
Na época, a polícia disse que os suspeitos confessaram que pegaram Tayná quando ela passava em frente ao parque de diversões. De acordo com a confissão, eles levaram a adolescente para um matagal, estupraram, estrangularam e deixaram o corpo em um terreno ao lado.
Porém, mais tarde, eles disseram que foram torturados para fazer a confissão. A situação foi denunciada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) passou a investigar a atuação policial e denunciou 21 pessoas, entre eles o delegado Silvan Pereira, que comandava a delegacia responsável pela investigação da morte de Tayná, e policiais civis.
O ex-delegado e dois investigadores da Polícia Civil chegaram a ser condenados em 2018. Porém, recorreram e, em março de 2020, foram absolvidos pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).
O Ministério Público disse que recorreu da decisão ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e que o recurso ainda não foi julgado.
Proteção à testemunha
Por conta do processo envolvendo a tortura, os quatro funcionários do parque de diversão foram postos no programa de proteção a testemunhas e levados para outro estado.
O g1 questionou se os quatro seguem no programa, porém o Ministério Público afirmou que não seria possível passar outras informações, além do fato que motivou a inclusão estar ligada à ação penal que apurou o crime de tortura.
Crise motivou troca do comando da Polícia Civil
Na época, a crise desencadeada pela suposta tortura dos suspeitos levou à troca de comando da Polícia Civil do Paraná.
O então delegado-geral da Polícia Civil Marcus Vinícius Michelotto colocou o cargo à disposição e foi substituído pelo delegado Riad Braga Farhat.
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