O julgamento do ex-policial penal Jorge Guaranho, acusado de matar o guarda municipal e militante petista Marcelo Arruda em julho de 2022, foi novamente adiado e ainda não há uma nova data. Guaranho é acusado de homicídio duplamente qualificado e está preso no Complexo Médico-Penal, na região metropolitana de Curitiba.
O júri estava marcado para começar nesta quinta-feira (2), quase um mês após a primeira tentativa de julgamento -em 4 de abril, a defesa do réu abandonou a sessão, o que forçou o adiamento.
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Agora, a defesa do réu obteve uma liminar em segunda instância para suspender o júri até a análise final sobre o local do julgamento. A defesa de Guaranho não quer que o julgamento seja realizado na cidade de Foz do Iguaçu, onde o crime ocorreu.
A liminar foi assinada na sexta-feira (26) pelo juiz Sergio Luiz Patitucci, do Tribunal de Justiça do Paraná. O mérito dela ainda será analisado por um colegiado.
O tesoureiro do PT Marcelo Arruda e o ex-policial penal Jorge Guaranho – Foto: Reprodução
O advogado de Guaranho, Samir Mattar Assad, sustenta que, se o júri for realizado em Foz, o réu não conseguirá “exercer seu direito a uma defesa plena”. Ele afirma que não existe imparcialidade no corpo de jurados na cidade e que o julgamento deveria acontecer fora da região oeste do Paraná ou em uma comarca localizada a mais de 200 km, no mínimo.
Acolhendo tese da defesa de Guaranho, o juiz do TJ entende que é plausível a suspeita de que os jurados em Foz podem não ter a “imprescindível imparcialidade” para o julgamento do caso.
Patitucci cita o fato de a vítima ter sido diretor do Sindicato dos Funcionários Públicos Municipais de Foz do Iguaçu, e de sua companheira, Pamela Suellen Silva, possuir um cargo na Itaipu Binacional.
O corpo de jurados seria composto por sete funcionários da hidrelétrica e 21 funcionários municipais, “o que pode influenciar na decisão dos jurados”, segundo o juiz.
O debate sobre o local do júri também vem na esteira de uma estratégia da defesa do réu de afastar a hipótese de motivação política.
Ao pedir a mudança no local do júri, a defesa de Guaranho lembra que o caso ocorreu nas proximidades da campanha eleitoral para presidente da República, na “disputa mais acirrada de todos os tempos”, e que, por isso, foi tratado como um episódio de intolerância política, “gerando inúmeros atos em favor da vítima na cidade”.
Câmera registrou momento em que Jorge Guaranho atirou contra Arruda – Foto: Reprodução
Mas, para Assad, seria apenas mais um caso de violência no país se não fosse o momento histórico e os indivíduos envolvidos.
Já o advogado Daniel Godoy Junior, que representa a família de Arruda em assistência à acusação, afirmou à Folha nesta segunda-feira (29) que a alegada ausência de motivação política do réu é “desprovida de racionalidade e absolutamente contrária ao conjunto probatório colhido no processo”.
Segundo ele, trata-se apenas de uma tentativa de excluir uma das qualificadoras e reduzir a pena, em eventual condenação.
Godoy Junior também disse que Foz é o juízo natural e que “não há qualquer suspeição quanto aos jurados”.
O crime aconteceu quando Arruda comemorava o seu aniversário de 50 anos com a família e amigos em uma festa temática, com símbolos e imagens do PT e de Lula, então candidato a presidente. Arruda era tesoureiro do diretório municipal do PT.
Guaranho invadiu a festa e atirou contra Arruda, que acabou morrendo. Na ação, o petista reagiu e também efetuou disparos contra seu agressor, que ficou ferido e foi internado. Dias depois, teve prisão preventiva decretada.
Em dezembro daquele ano, Guaranho se tornou réu. O juiz Gustavo Germano Francisco Arguello, da 3ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu, em sua decisão, apontou que a provável motivação do crime indica uma “personalidade conflituosa, beligerante e intolerante” de Guaranho, que teria invadido a festa de uma pessoa com opinião política diferente da sua “com o aparente fim de antagonizar, confrontar”.
Em março de 2023, já no início do seu terceiro mandato no Planalto, Lula se encontrou em Foz com a família de Arruda, “covardemente assassinado por um ódio que não podemos aceitar”, disse o presidente, na ocasião.
O encontro de Lula com a família ocorreu antes da cerimônia de posse do ex-deputado federal Enio Verri (PT) no comando da Itaipu Binacional.
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